Nos últimos tempos...
Por Ricardo Souza*
Nos últimos tempos, todos temos passado por enormes reflexões, que via de regra residem suas causas em acontecimentos até então incertos e incompreensíveis, e que por sua vez demonstraram-se incontroláveis e fora de nossa razoabilidade.
Eis que surgiram nomenclaturas antes distantes de nosso cotidiano - “isolamento”, “epidemia”, “pandemia”, “lockdown’’, e por último resumindo todo o contexto anterior a terrível expressão “crise”, que vem ecoando como um prefixo aterrador, ela se apodera do presente, nos enterrando mente a dentro os medos reais e lendários do oriente ao ocidente.
Está instalada, e em diversas identidades, ora Corona, ora econômica, ou ainda de governança e/ou governabilidade, mas sempre no que se refere ao Pará e ao Brasil a maior intensidade tem sido política, e infelizmente em sua essência causal, descortina uma realidade típica de países sul-americanos, marcados pelo mandonismo, pela corrupção e patrimonialismo, estas condições endógenas, infelizmente, se tornaram terreno fértil para produção de lideranças incapazes e ineptas e aqui nosso objetivo é genérico, sem querer colocar a carapuça em ninguém.
Mas a realidade está posta, no presente o que se pede de um ente político não é a busca contínua do poder para ser ou para ter. A dimensão pública pede responsabilidade fiscal, engajamento, sensibilidade, prudência, bom censo, trato socialmente equilibrado e respeito às instituições.
Qualquer indivíduo que busque neste momento de turbulência social o protagonismo, deve ter em mente que posicionamentos personalistas, desrespeitam o coletivo, que em sua grande maioria necessita de atenção, cuidados e meios de subsistência, portanto falamos de valores humanos, tão caros e necessários.
Ao sujeito, que foi delegado o poder de representar a maioria por via democrática e que tem data marcada de entrada e de saída, é necessário estar sempre com os olhos atentos aos julgamentos da realidade brutal, pois a política não tolera mais os enganos de enganadores e como em Roma “toda vitória é efêmera”...
Em países que o grau de desenvolvimento humano alcançou patamares extremamente importantes, a base da sociedade se notabiliza por uma crescente maturidade cidadã, o que estimula a participação popular por decisão individual e não por imposição coletiva ou partidária.
Assim, os sujeitos, cientes de seu papel na democracia, não se furtam de sua responsabilidade histórica. Neste cenário, não há espaço para demonização de adversários ou para antigas contendas sepultadas na guerra fria, o que deixa claro que as janelas, que se abriram com o século XXI, são inclusivas e a moeda de maior valor é o combate à pobrezas e às desigualdades, o que em nada se assemelha à realidade brasileira.
Com estes princípios se forjaram lideranças políticas de imensa qualidade, com objetivos prioritários voltados para o bem público, que sem dúvida é o desejo maior em qualquer estado democrático pautado em alicerces republicanos de igualdade, liberdade e fraternidade.
O Brasil e o Pará, infelizmente ainda guardam em sua tradição política poucas tentativas e portanto sem muito estoque de experiências bem sucedidas na construção de valores modernizadores de gestão, que sejam eles baseados em decisões descentralizadas e participativas.
Falta um Estado incentivador e inovador, que seja mais abrangente e que compreenda os diversos estamentos da sociedade, respeitando as complexidades existentes, isto, sem dúvida, se dá pela cadeia representativa política, que em sua grande maioria não quebra o grau de dependência ao poder executivo.
Diante do exposto e desta imensa crise epidemiológica em que estamos, o poder do ESTADO reside nas soluções que o mesmo pode aplicar para diminuir o sofrimento das pessoas. O protagonismo não serve ao governante, este deve deter-se em apresentar rumos, e utilizar-se do entrelaçamento institucional, reforçando democraticamente o equilíbrio na sociedade, e segurança de que se pode contar com estruturas comprometidas e um estado solidário e eficiente.
*Ricardo Souza é historiador servidor público, gestor público e empresário de Belém do Pará.
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