Respiradores chineses foram comprados de uma empresa fantasma, diz autoridade Chinesa

Charles Andrew Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China disse que governos do Pará, Bahia, Rio de Janeiro e Santa Catarina tiveram o mesmo problema.


O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Andrew Tang, disse, em entrevista no jornal A Tarde, nesta segunda-feira, 11, que  governo baiano comprou respiradores de uma empresa de Los Angeles, que não existe. No endereço da empresa tem uma casinha, um boutiquezinho pintado de preto, roxo, amarelo, disse o executivo. 

Segundo ele o governo da Bahia gastou R$ 49 milhões e perdeu esse dinheiro, porque comprou de uma empresa que não existe, uma empresa fantasma. Segundo ele, esse não foi um problema exclusivo da Bahia, pois Santa Catarina, Rio de Janeiro e Pará também tiveram o mesmo problema.

"Foram gastos R$ 49 milhões...", disse o repórter do jornal O Dia, enquanto o executivo chinês respondeu:   

"Exatamente. O governo da Bahia perdeu esse dinheiro, porque comprou de uma empresa que não existe, uma empresa fantasma". 

Leia abaixo, a matéria com a entrevista completa:

"A China ainda tem boa vontade com o Brasil", diz Charles Tang

Por Osvaldo Lyra, em A Tarde

A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil. Só em 2019, o saldo comercial brasileiro foi de mais de US$21 bilhões. Segundo Charles Andrew Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, os chineses "ainda tem boa vontade com o Brasil", após a crise diplomática entre os dois países, aberta com as críticas feitas por integrantes da família Bolsonaro e o governo brasileiro. De acordo com ele, a pandemia abriu novas oportunidades de negócios entre os gigantes da América do Sul e da Asia, mas faz uma ressalva: "nações não têm amizades permanentes, têm interesses permanentes". Portanto, "os brasileiros, que não são patriotas, não querem defender o interesse nacional do Brasil. Talvez eles amem outros países acima do Brasil e queiram sabotar os interesses nacionais do seu país".  

A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Só em 2019, o saldo comercial brasileiro foi de mais de US$21 bilhões. Como o senhor avalia a relação entre os dois países? 

Eu acho que a relação entre os dois gigantes da América do Sul e da Ásia está bem consolidada e bem madura. Então, a relação é muito boa, porque o Brasil necessita da China e a China necessita do Brasil. A China descobriu na guerra comercial com os Estados Unidos que ela necessita de parceiros confiáveis, que não vão interromper o fornecimento para garantir a segurança alimentícia do povo chinês se o presidente acordar de mau humor. Então, o Brasil colheu não só a bonança dessa guerra comercial, porque, nos últimos dois anos o Brasil exportou quase 90% da sua safra de soja para a China; e também teve a bonança de comprar soja americana com 25% de desconto para o próprio consumo brasileiro. Hoje, com o coronavírus, logicamente, como a China detém quase 90% da fabricação dos produtos necessários para combater esse inimigo mortal de toda a humanidade, e os países estão brigando entre si para poder comprar esses suprimentos, porque a China não consegue fabricar o suficiente nesse momento para atender a todos, eu acho que o interesse nacional do Brasil é claramente e obviamente de estreitar relações com a China. E como brasileiro por opção, eu gostaria de dizer que os brasileiros devem, os brasileiros patriotas que amam o Brasil, devem defender os interesses nacionais do Brasil, e não ir contra eles. Inclusive, no passado, quando o Brasil estava no ponto mais terrível da crise econômica do país, a China apostou e confiou no Brasil, investiu naquela época mais de US$20 bilhões, criou um fundo de investimento para infraestrutura de US$20 bilhões, onde ela investiu US$15 bilhões e emprestou US$15 bilhões de dólares para a Petrobras, quando ela estava no fundo do poço, em cima dos US$5 bilhões que já tinha emprestado. E, óbvio, que isso certamente ajudou o Brasil a sair um pouco mais cedo da sua crise e protegeu os empregos de centenas de milhares de brasileiros. As compras chinesas naquela época também ajudaram o Brasil a ter esse superávit invejável de mais de US$350 bilhões. 

A pandemia abriu novas oportunidades de negócios para os dois países? 

Sem dúvida, abriu novas oportunidades de negócios para ambos. A China ajudou, fez doação para 82 países, não só de material e equipamento, como ela despachou equipes médicas com experiência ao combate do coronavírus para muitas nações, como Venezuela, Paquistão, etc. Ajudou os Estados Unidos, também, com doações de equipamentos e material.  

Como contornar ou amenizar o desgaste provocado na diplomacia dos dois países, após as críticas de integrantes da família Bolsonaro e do governo brasileiro? Isso pode atrapalhar a relação comercial entre as duas nações?  

Como a Embaixada falou recentemente, o ministro conselheiro, a relação entre os dois países está muito madura. Mas, logicamente, quando pessoas do governo, ministros, começam a falar da China, isso vai desgastando um pouco, não é? Esse pessoal não entende o seguinte: como o Lorde Palmerston, em 1848, falou em um discurso no parlamento britânico, nações não têm amizades permanentes, têm interesses permanentes. E que todo o dever do cidadão é de defender os interesses do seu país. É mais do que evidente que o interesse nacional do Brasil é de estreitar relações com a China, porque no passado recente, na pior fase da crise econômica do Brasil, a China apostou e acreditou no Brasil, como já expliquei. Hoje o Brasil e China são economias complementares. O Brasil e os Estados Unidos são economias de dois concorrentes, porque se a China compra mais do Brasil, vai comprar menos dos Estados Unidos; se compra mais dos Estados Unidos, compra menos do Brasil. Então, no presente, é muito importante, por essas duas principais razões, fora as outras, ter um estreitamento de relações com a China como um interesse nacional dos brasileiros.  

Qual a principal demanda hoje dos produtos que os brasileiros buscam na China?  

Bem, logicamente, os respiradores são itens que estão em falta e são necessários para salvar vidas. As máscaras, kits de testes para poder testar todo mundo, todo esse material tem que ser comprado na China e eu acho que a China tem uma boa vontade, ainda, com o Brasil. Logicamente, se continuarem atacando a China, a China vai ressentindo cada vez mais.  

O governo chinês mantém negócios com o governo da Bahia?  

Bem, não digo que o governo chinês tenha negócios, porque ele realmente não participa de negócios, mas as empresas chinesas têm relacionamento com o estado da Bahia e com praticamente todos os estados do Brasil. Na Bahia, os chineses estão fazendo o VLT, a ponte Salvador-Itaparica. No Pará, 7 bilhões foram assinados para uma siderúrgica, ferrovia, etc. Então, eu acho que a China está ajudando a construir a infraestrutura do Brasil e que é a base do crescimento econômico e do desenvolvimento de qualquer nação. Na minha última palestra, na Universidade de Oxford, eu falei que a África, depois de ter suas riquezas sugadas pelos antigos mestres coloniais, foi deixada como um continente perdido por muitas décadas, até que a China começou a investir maciçamente na infraestrutura da maioria dos países africanos e tornou a África um continente de esperança, justamente porque, com essa infraestrutura construída pela China, com os empréstimos que ninguém mais queria emprestar para países pobres, conseguimos ajudar no desenvolvimento desses países.  

Há episódios recentes, como a compra de 600 respiradores, que foi feita pelo governo baiano...  

Calma, isso é outra história. O governo baiano comprou respiradores de uma empresa de Los Angeles, que não existe. No endereço dela tem uma casinha, um boutiquezinho pintado de preto, roxo, amarelo. Isso é outra história, tá.  

Foram gastos R$ 49 milhões...  

Exatamente. O governo da Bahia perdeu esse dinheiro, porque comprou de uma empresa que não existe, uma empresa fantasma. E mais, no futuro, para a economia brasileira voltar a ter chances de crescimento, de quem a gente precisa para ajudar na construção de infraestrutura, de saneamento, etc? Dos chineses. Lógico. Então, é indiscutível que o interesse nacional do país é a China. Os brasileiros, que não são patriotas, não querem defender o interesse nacional do Brasil. Talvez eles amem outros países acima do Brasil e queiram sabotar os interesses nacionais do seu país.  

Esse não deveria ser o momento de politizar as relações, não é isso? 

Esse momento que o país, que o mundo vive, não deveria ser momento de politizar as relações e sim tratar as relações de uma forma mais pragmática, mais comercial. É como o Charles de Gaulle, Winston Churchill, Lorde Palmerston disseram: nações não têm amigos, nações têm interesses. O cidadão patriota de cada nação tem que defender os interesses nacionais do seu país e não ser contra, não sabotar os interesses nacionais do país.  

O senhor assumiu a direção da Associação Brasileira de Energia de Resíduos Sólidos. É um organismo novo, mas que vai assumir uma importância grande na produção e no cuidado de energias limpas?  

Sem dúvidas. O Brasil tem vários problemas e um dos mais sérios é o problema de lixo. Todos os prefeitos do Brasil são fora da lei, porque não conseguem atender às demandas da legislação e podemos transformar esse grande problema, que também está prejudicando bastante os lençóis freáticos do país, podemos transformar essa dor de cabeça, para defender a ecologia, transformando em ativos de energia. O Brasil, quando terminar essa “pandemonia”, vai ter que voltar a crescer e vai faltar energia. Então, nós podemos atender à demanda energética e também resolver o problema que está afligindo todos os municípios do Brasil. Nós temos já em Paulínia a única planta de grande escala, que já está pronta para funcionar, que é a do doutor Alfredo Malafaia, que é o pioneiro no Brasil dessa modalidade de geração de energia. Existem algumas outras plantas experimentais, mas a dele serve para beneficiar 700 toneladas de lixo-dia, ou seja, 700 mil pessoas é que geram mais ou menos 700 toneladas de lixo-dia. Então, eu acho que ele sendo um pioneiro, eu acho que está prestando um grande serviço ao seu país, ao Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A polêmica sobre a suposta doação de recursos dos bancários do Pará à campanha de Haddad

Ministério Público Eleitoral impugna candidatura de Eduardo Pio X baseado na lei da Ficha Suja

Tailândia: Macarrão lidera com ampla vantagem e seria reeleito se a eleição fosse hoje, aponta pesquisa