O que representou a visita do vice de Bolsonaro, que recebeu o título de "Cidadão do Pará"?

Hamilton Mourão e Helder Barbalho se reúnem com latifundiários no Palácio do Governo do Pará.
Foto: Marcos Santos, Agência Pará

Por Diógenes Brandão

O escritor italiano Luciano Bianciardi nos deixou duas frases que conquistaram a ciência política. Ei-las: 

"A política... há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder".

"A revolução, se quiser resistir, deve permanecer revolução. Se se transforma em governo, já está falida... Os lugares que deixaram de ter uma revolução permanente recuperaram a tirania".

Com elas, inicio este breve comentário sobre a visita do vice-presidente Hamilton Mourão a Belém, onde recebeu nesta quarta-feira, 8, o título de Cidadão do Pará, concedido pela ALEPA.


Ao lado de deputados de sua base aliada, Helder Barbalho entrega o título de "Cidadão do Pará" a Hamilton Mourão. Foto de Marcos Santos - Agência Pará.

Sem entrar no mérito do merecimento ou não da honraria, em um estado onde o próprio governador se autoproclamou Comendador da Ordem do Mérito D. Pedro II e depois teve que voltar atrás, devido à péssima recepção que o ato egocêntrico obteve nas redes sociais, em mais uma desastrosa e vexatória decisão de Helder Barbalho.

O que realmente há de curioso nessa visita de Mourão é justamente o que noticiado sobre ela e o que os protagonistas comentaram. 

Vamos ao vídeo da TV Cultura:


Viram aí? 

A homenagem foi de autoria do deputado estadual Francisco Melo - Chicão (MDB) , líder do governo na ALEPA, mas até o fechamento deste artigo nenhuma informação de quem votou e aprovou esse título ainda não constava no portal daquela instituição, a qual diga-se de passagem, é devagar demais para os dias atuais, na era da comunicação digital, onde a comunicação precisa ser praticamente instantânea. 

A informação foi publicada meio que de qualquer jeito na Agência Pará, órgão de comunicação oficial do governo do Estado, que também não informou quase nada sobre o trâmite e a aprovação do projeto de lei que conferiu o título. 

Essa atitude só reforça a falta de transparência já denunciada em outros momentos e por diversos órgãos de controle, como o Ministério Público Federal e Estadual, além de outros organismo que reclamam do atual governo e nada muda. 

Parece que vivemos em uma capitania hereditária, sob o chicote autoritário de quem manda e desmanda nessa colônia, tal como vivemos no tempo do domínio do reino de Portugal.

Bom, voltando a cerne da questão, além desta falta de informações, a visita de Mourão foi cercada de mistérios. Trancados, sem a presença da imprensa nos momentos principais do encontro, o vice-presidente reuniu com Helder Barbalho às portas fechadas, onde só haviam técnicos do governo e representantes do setor produtivo, ou seja, dos madeireiros, latifundiários e grileiros interessados em avançar sobre territórios indígenas e quilombolas, onde estas populações ficam à mercê e cada vez mais mais atacadas e assassinadas, além de estarem sendo dizimadas pela COVID-19 e outras doenças levadas por gente que explora ouro, madeiras e outras riquezas de suas terras, tudo sob o olhar negligente do governo federal e estadual. Um verdadeiro complô contra essas populações excluídas. 

Helder e Mourão saíram da reunião para falar com a imprensa que os aguardava do lado de fora do local da reunião realizada no Palácio do governo, recentemente visitado pela Polícia Federal, jogando confetes um no outro. Pareciam fazer parte do mesmo partido, do mesmo governo, mas na verdade fazem parte do mesmo plano para entregar nossas riquezas ao grande capital. 

Antes mesmo de desembarcar em Belém, circularam rumores de que a visita seria para selar de vez o acordo de paz entre o governador Helder Barbalho e Jair Bolsonaro, que andaram se bicando e trocando farpas durante a pandemia e isso lhes trouxe arranhões que os fazem sangrar até hoje. Logo, uma trégua foi articulada pelo MDB e partidos do Centrão, para que os dois protagonistas pudessem se recuperar perante a opinião pública.

Além disso, entre os interesses de Helder, há um especial: Que a Procuradoria Geral da República relaxe sua pressão no processo em que órgão pediu ao STJ, o envio de agentes da Polícia Federal para realizar uma batida na casa do governador e de diversos assessores, onde foram encontrados quase um milhão de reais, boa parte deles dentro de uma caixa térmica (cooler), com boa parte desse dinheiro, até agora sem explicação.

Veja o twitter do blog AS FALAS DA PÓLIS sobre a estratégia:


Outra curiosidade desta visita é o silêncio assustador da esquerda paraense. Nunca na história do PT, PSOL e PCdoB, estes partidos estiveram tão submissos a toda e qualquer iniciativa de um governante. O que aparenta é que o peso do chicote de Helder Barbalho não lhes permite nem o direito de fazer considerações sobre as visitas de Bolsonaro e sua turma, que vêm ao Pará e nunca são incomodados, nem mesmo com protestos, sequer nas redes sociais, quanto mais nas ruas, como acontecia antes da família Barbalho retornar ao poder. 

Tá mais do que na cara que o alinhamento do governo Barbalho com Bolsonaro é de caráter liberal na economia e similar na forma de atacar direitos, como os que foram vistos na aprovação do "Pacote de Maldades", feita na surdina, no fim do ano passado, com direito a bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta, além de porrada da PM nas costas dos sindicalistas que estiveram na frente da ALEPA e tentaram entrar para participar da sessão que aprovou, a toque de caixa, a famigerada Reforma da Previdência dos Servidores Estaduais, lesados por sindicatos dirigidos por militantes desta mesma esquerda traidora da classe trabalhadora. 

Percebam a contradição e covardia dessa mesma esquerda paraense, que fez côro com a grita geral da esquerda do restante do país, quando Mourão assistiu calado o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, dizer em reunião ministerial, do dia 22 de abril, que o governo Bolsonaro deveria aproveitar a pandemia para passar reformas “infralegais”, de “simplificação” e “desregulamentação” de leis ambientais. Na sequência, o ministro chega a convocar outros ministros para “ir passando a boiada, ir mudando todo o regramento”, enquanto a imprensa estava ocupada tratando do impacto do novo coronavírus no Brasil. 

No dia da reunião, o Brasil acumulava 45 mil casos e quase três mil mortos, vítimas de covid-19.  Mas o que o ministro queria dizer com “reformas infralegais” e “passar a boiada”? 

Assista o trecho do vídeo divulgado a mando do Supremo Tribunal Federal (STF), da reunião ministerial em que Mourão participou e apoiou tudo que foi dito.




Agora assista de novo o vídeo da TV Cultura do Pará, a qual serve ao governo do Estado, onde é possível ouvir Helder Barbalho dizer: 

"O alinhamento do Governo do Estado com o governo federal na construção de soluções pra Amazônia são absolutamente fundamentais e o presidente Mourão, como presidente do conselho da Amazônia, tem construído este diálogo para que possamos efetivamente viabilizar um processo que compatibilize o desenvolvimento, as vocações, a geração de emprego e renda para os paraenses que aqui moram, com a sustentabilidade e a preservação a floresta, e, acima de tudo a responsabilidade com a Amazônia." 

Você acreditou em alguma dessas palavras de proteção ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável?

Como disse Bob Marley

"São as atitudes e não as circunstâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo respeito, é apenas o que você diz".

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